Descrição enviada pela equipe de projeto. Dentro de uma cidade, as praças são elementos fundamentais no espaço público devido às suas qualidades recreativas, articuladoras e por apresentar, em geral, alguma vegetação. A maioria delas é criada como o espaço resultante entre ruas, por isso, surgem a partir de uma iniciativa pública. No entanto, nas metrópoles de hoje em dia, é frequente encontrar cada vez mais praças de propriedade privada. Estas podem corresponder a jardins de edifícios abertos ao público, espaços residuais ou áreas comuns de um complexo de torres, para nomear apenas alguns exemplos.
O principal desafio deste tema consiste em que a iniciativa privada, que executa essas praças com seu capital, proporcione à cidadania um espaço habitável, seguro e de acesso garantido. Estas variáveis, eminentemente arquitetônicas, nem sempre são contempladas nestas praças, pois vão além dos interesses de quem está desenvolvendo o projeto, portanto, dependem de sua própria vontade em criar um espaço de qualidade. Resumidamente, o financiador privado cobra cada vez mais relevância na criação de espaços públicos. Este é o caso de “The City Dune” em Copenhague, uma praça privada de uso público com atenção especial em desenvolver uma arquitetura a partir do privado, mas que aborde a cidadania.
O contexto no qual se insere o projeto é uma área adjacente a Havnebade - um porto da baía – que se caracteriza pela escassez de espaços públicos, infraestrutura deficiente, escritórios de baixa qualidade e centros comerciais introvertidos. No entanto, sua centralidade na cidade é bastante atrativa para escritórios corporativos, por isso, o banco sueco SEB Bank decidiu instalar sua sede dinamarquesa numa área margeada por duas ruas de tráfego intenso, e o escritório Lundgaard and Tranberg construiu duas torres com um espaço de estacionamento subterrâneo entre elas.
Ao escritório SLA foi destinado um projeto de espaço público na laje superior aos estacionamentos com a ideia de vincular as torres entre si e com a área da baía. Este espaço público, segundo memorial do projeto, foi projetado como uma superfície inclinada simulando uma “duna de areia do norte da Dinamarca, ou um monte nevado do inverno escandinavo”.
Este plano inclinado de 7.300 m² se eleva 7 metros sobre a rua através de camadas escalonadas onduladas. Entretanto, apesar da inclinação, algumas das camadas se sobrepõem através de rampas com suave inclinação, formando diferentes percursos contínuos que vinculam um edifício ao outro e ambos com a rua. Assim, garante-se o acesso universal para pessoas com mobilidade reduzida e ciclistas. As rachaduras entre as curvas destas camadas escalonadas conformam o espaço para a vegetação.
Neste sentido, o projeto usa a paisagem como ponto de partida: busca-se reinterpretar a natureza num contexto urbano, sem importá-la literalmente.
A vegetação busca gerar uma espécie de envoltória verde que serve para diminuir o calor nos meses de verão. Assim, as dobras e contornos da praça são a chave para o paisagismo e a sustentabilidade do projeto. Isto porque, com as dobras, aumenta-se a superfície exposta da praça, o que ajuda a reduzir a temperatura em dias quentes. Em segundo lugar, a praça tem 110 atomizadores que regam a vegetação; o excesso de água escoa através dos pequenos canais de coleta e é armazenado em dois tanques de água pluvial que devolvem a água para os regadores, reciclando-a.
Em suma, este projeto se destaca por algo além da forma, tratamento paisagístico ou sustentabilidade: é uma iniciativa privada, digna de ser referenciada, de livre acesso aos cidadãos de Copenhague. Pequenos jardins de prédios, espaços residuais e cantos complexos de torres, entre outros, poderiam elevar seu status de espaço vazio, ocioso e vago para um espaço rico em uso, vegetação e oportunidades, com apenas algumas dobras do terreno e uma forma atraente e estratégica.
Por Álvaro Castro Sebastián, via Plataforma Urbana. Tradução Gabriel Pedrotti, ArchDaily Brasil.